KOSTIS VELONIS | SLAPSTICK MASONRY

Inauguração 3 de Fevereiro

Até 19 de Março

 

 

 

As esculturas de Kostis Velonis exploram a condição cómica e bizarra do objeto como sujeito, envolvendo narrativas alegóricas, quotidianas e conspirações mitológicas. Ao longo do seu trabalho, a ênfase é colocada nas implicações morais do fracasso e da falta de jeito causado pelo devaneio e pela realidade que lhe causam frustração. O contexto desta leitura é articulado através de um vocabulário sistemático de formas e materiais que se referem à modernidade através de tipologias arquitectónicas como as antigas estruturas teatrais gregas (palco, tribunas, orquestra), a política do pódio e a subpolítica da domesticidade.

 

O slapstick ou, como originalmente referido na commedia dell’arte italiana, o batacchio, era utilizado como um adereço teatral constituído por duas tábuas finas de madeira que produziam um som de ‘bofetada’ quando um comediante dava um tapa no outro. O gesto de esbofetear o rosto ficaria sincronizado com o som de duas tábuas finas batendo uma na outra, transformando assim um objecto inanimado, sem alma, num adereço animado produtor de som. Se o movimento é uma condição necessária para qualquer organismo vivo (do latim anima), as tábuas finas de estaladas obtêm aqui um papel animado e vivo. No mundo das comédias físicas, este movimento é impulsionado pela lógica de acção e reacção, enquanto o som é seco e ruidoso. Em termos escultóricos, as tábuas rectas longas e estreitas, com os golpes fortes, não têm a plasticidade de outras formas. Mas do ponto de vista técnico, apresentam características animistas, uma vez que produzem som e têm uma estrutura aberta e fechada. O batacchio teatral, o único do seu género neste tipo específico de teatro, imita, portanto, uma função que é representada duas vezes; no palco e nos bastidores.

 

Na exposição Slapstick Masonry, o batacchio é apropriado através de uma série de esculturas slapstick em grande escala acompanhadas de outras obras mais esculturais e líricas que prestam homenagem a condições que levam a eventos de tropeço e situações mutáveis, tanto como na comédia slapstick. Estes trabalhos fazem lembrar narrativas instáveis e fugazes, semelhantes a um sonâmbulo cambaleante, ou a um andaime trémulo ou a um casal a separar-se. Em outros casos, as esculturas retratam ideias com relações aparentemente opostas. Uma obra descreve o mecanismo do pensamento baseado nas funções rotativas de um circo, enquanto outra compara a persona genial de Lucy Ball a uma catapulta grosseira que atira bolas e rochas. Em uma escultura, os sonhos diurnos de Buster Keaton estão contidos em duas pedras que olham para o sul. Em backstage, uma pilha de betão e gesso, revela a emergência contraditória de flores através do trabalho de alvenaria. Neste conjunto de peças, o batacchio é-nos revelado, não apenas como um adereço oculto, multifuncional e performativo, mas principalmente como um objecto libertado, embora desajeitado, que causa erros na sua tentativa de se tornar autónomo.

 

_______________

 

ENGLISH VERSION

 

 

Kostis Velonis’ sculptures explore the comic and awkward condition of the object as a subject, implying allegoric, everyday narratives and mythological plots. Throughout his work, the emphasis is placed on the moral implications of failure and clumsiness caused by daydreaming and the reality that frustrates it. The context of this reading is articulated through a systematic vocabulary of forms and materials that refer to modernity via architectural typologies such as ancient Greek theatre structures (stage, stands, orchestra), the politics of the podium and the subpolitics of domesticity.

 

The slapstick or, as originally referred to in the Italian commedia dell’arte, the batacchio, was used as a theatrical prop consisting of two thin wooden planks that produced a ‘slapping’ sound when one comedian would slap another. The slapping gesture on the face would become synchronized with the sound of two thin planks slapping each other thus transforming an inanimate, soulless object into an animated sound-producing prop. If movement is a necessary condition for any living organism (Latin for anima) the thin slapstick boards here obtain an animated, living role. In the world of physical comedies, this movement is driven by the logic of action and reaction, while the sound is dry and noisy. Sculpturally speaking, the straight long narrow boards-slats with the strong blows, do not have the plasticity of other shapes. But from a technical point of view, they present animistic characteristics since they produce sound and have an open and close structure. The theatrical batacchio, the only one of its kind in this specific type of theatre, therefore impersonates a function that is acted twice; on stage and backstage.

 

In the exhibition Slapstick Masonry, the batacchio is appropriated through a series of large-scale slapstick sculptures accompanied by other more sculptural and lyrical works that pay tribute to conditions that lead to stumbling events and changeable situations, as much so as in slapstick comedy. These sculptures are reminiscent of clumsy, fleeting narratives similar to a staggering sleepwalker, a shaky scaffolding, or a couple splitting up. In other cases, the sculptures portray ideas with seemingly opposite relationships. One work describes the mechanism of thought based on the rotating functions of a circus, while another compares the genius persona of Lucy Ball to a rough catapult throwing balls and boulders. In one sculpture, Buster Keaton’s daydreams are embedded in two stones that look to the south. In the work backstage, a pile of concrete and plaster, reveals the contradictory emergence of flowers through dense masonry. In this body of works, the slapping batacchio is revealed to us, not only as a hidden, multi-functioning, performative prop but primarily as a liberated albeit clumsy object that causes blunders in its attempt to become autonomous.