Maja Escher | Pedras de Raio

Opening on February 2nd.

Magic is useful, stepping in when logic falters, be it from deficiency or overabundance. It serves to elucidate natural occurrences whose underlying principles elude us and to revel in their beauty when scientific comprehension fails to capture their essence. Acting as a societal catalyst, it functions as a bridge when discourse is unable to reach the audience due to its complexity or political saturation. Thus, something is disquieting in magic… forever bordering reality, filling voids and highlighting imperfections. It exists in a realm neither fully tangible nor wholly abstract — the door that hides a mirror.

“As Pedras”, featured in this exhibition are stones which, in popular belief, are held to be “filhas de raio”, daughters of the lightening, born when lightening falls upon the earth. Communities attributed a supernatural, almost mystical significance to them, viewing them as gifts from Heaven — for instance, these stones served as protective amulets for homes during storms. This belief, spanning across various parts of Europe albeit with slight variations in their usage and definition, holds an archetypal essence. Through this show, Maja Escher continues to expand her research on this ancestral wisdom, drawing from the rich reservoir of folk knowledge.

The artist’s research unfolds through extensive fieldwork. Within this new production, one can discern a subtle evolution in its earthy color spectrum, transitioning from reddish and clay-like hues to warmer yellows and purples. These colors derive from natural pigments, which the artist also employs to dye her canvases. In 2021, while preparing for an exhibition at the same gallery, she embarked on a collection journey around Lisbon, gathering an array of materials: bones, wood, stones, snail shells, clay, and pigments. Prompted by the vibrancy and intensity of these tones, she initially incorporated them solely into the piece “Roda das Cores” (Circle of Colors), an endeavor to organize and delineate the diverse palette of the landscape she explored that day. For over a year, these materials accompanied the artist in her studio and only after extensive experimentation, through the careful addition of water to the pigments and the saturation of cloths, she has now integrated them into the fabric of her canvases, which form one of the main pieces of this exhibition.

Maja Escher’s work is based on a theoretical body of studies on ecology and the interconnections between minerals, plants and animals, including humans. Her references are diverse and revolve around research related to the perception of the world as a whole and the desire for its re-enchantment. In line with the current need to rethink the relationships between the industrialized world and nature, as well as to reflect on the essential meaning of decolonizing policies, her artistic practice starts from the local and projects itself to the global.

Maja Escher’s artworks serve as bridges spanning from past to present and towards the future. Rooted in the earth and reaching the skies.

The show closes on April 20th.

 

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Inauguração 22 de fevereiro.

A magia é útil, vem ajudar-nos quando a razão falha, seja por defeito ou excesso. É útil para explicar os fenómenos naturais cuja base objetiva é desconhecida, bem como para celebrar a sua beleza quando o conhecimento científico nos deixa sem palavras. Funciona como catalisador social quando certos argumentos não conseguem penetrar devido à sua complexidade ou ao saturamento político. Por isso, há algo de inquietante na magia… sempre com um pé na realidade, preenchendo lacunas e apontando a falhas. Não estáaqui, nem ali, é uma porta que esconde um espelho.

As pedras mencionadas no título desta exposição são aquelas que certas crenças populares definem como filhas do raio, ou seja, nascidas quando um raio cai na terra. As pessoas atribuíam-lhes qualidades sobrenaturais e mágicas, como se fossem presentes celestiais usando as pedras encontradas eram usadas como amuletos para proteger as casas das tempestades).. Essa crença, disseminada em várias regiões da Europa com leves variações na interpretação do valor das pedras e na sua definição, apresenta um caráter arquetípico. Através desta exposição, Maja Escher continua a expandir a sua pesquisa sobre as raízes ancestrais, apoiada nos conhecimentos guardados pela sabedoria popular.

A investigação da artista expande-se e enraíza-se no trabalho de campo. Nesta recente produção, há uma ampliação subtil da paleta de cores terrosas, transitando de tons avermelhados e argilosos para tons mais amarelos e roxos. Esta gama cromática é construída com pigmentos naturais, que são também utilizados para tingir os panos utilizados pela artista. Em 2021, durante os preparativos para uma exposição nesta mesma galeria, Maja Escher recolheu uma variedade de materiais nos arredores de Lisboa: ossos, madeiras, pedras, conchas de caracol, argila e pigmentos. Levada pela intensidade e beleza desses tons, ela incorporou-os, na altura, apenas na obra “Roda das Cores” – um círculo cromático concebido na vontade de organizar a diversidade de cores vibrantes da paisagem que explorou naquele dia. Por mais de um ano, esses materiais acompanharam a artista no seu estúdio e, apenas após longa experimentação, adicionando água aos pigmentos e embebendo os panos com eles, ela emprega-os agora nas telas que compõem uma das principais peças apresentadas nesta exposição.

O trabalho de Maja Escher baseia-se num corpo teórico de estudos sobre ecologia e nas interconexões entre minerais, vegetais, animais e humanos. As suas referências abrangem uma variedade de pesquisas relacionadas com a percepção global do mundo e com o desejo do seu reencantamento. Em consonância com a necessidade contemporânea de repensar as relações entre o mundo industrializado e a natureza, bem como de refletir sobre o significado essencial das políticas descolonizadoras, a sua prática artística emerge do local para se projetar no global.

As obras de Maja Escher funcionam como pontes entre o passado e o presente, apontando para o futuro. Com os pés na argila e a chave no céu.

Até 20 de abril.