Pequenas Notas Sobre Figuração II
Pequenas Notas Sobre Figuração II
Inauguração a 17 de julho, das 18h30 às 21h00
Até 21 de setembro
com obras de : Pedro Barassi, Pedro Liñares, Mariana Malheiro, Pedro Zhang
Monitor tem o prazer de apresentar Pequenas Notas Sobre Figuração II, uma exposição coletiva com obras de Pedro Barassi, Pedro Liñares, Mariana Malheiro e Pedro Zhang. Seguindo a linha estabelecida por Pequenas Notas Sobre Figuração em 2020, que destacou uma seleção diversificada de artistas portugueses e italianos explorando uma ampla variedade de técnicas, abordagens e temas da pintura figurativa contemporânea, para esta ocasião atual optamos por replicar o mesmo formato a fim de oferecer uma visão abrangente sobre as práticas de quatro jovens pintores residentes em Portugal.
As obras de Pedro Barassi parecem surgir de uma rica e diversificada gama de impressões – vindas seja de seus arredores imediatos, seja de fontes distantes acessíveis via internet – que ressoam com sua sensibilidade. O artista seleciona diferentes elementos subjetivos e poéticos que ele combina e harmoniza em suas pinturas. Seu processo criativo se inspira no método literário conhecido como cut-up, utilizado por escritores como William S. Burroughs, cuja técnica envolve fatiar um texto em seções e rearranjá-las para formar uma nova composição que pode transmitir tanto nonsense quanto novos significados. O artista incorpora esta prática de uma forma conceitual, uma vez que a fragmentação não é um elemento visível em suas telas; ela serve mais como uma técnica para gerar sugestões e novas imagens, inacessíveis por outra forma. Esta abordagem é mais evidente na escolha dos sujeitos que ele seleciona para suas pinturas, mostrando sua audácia em se envolver com diferentes imagens, ao mesmo tempo em que revela sua aversão à repetição, uma característica que se reflete no amplo espectro de temas que ele retrata. No entanto, apesar disso, ao examinar suas pinturas, não se pode deixar de notar uma coerência técnica e formal, demonstrando a preferência do artista por uma abordagem unificada tanto na composição final quanto no processo de execução. A ênfase na espontaneidade, na imprevisibilidade e talvez até no ruído na tela é claramente visível nas obras expostas, sublinhando a inclinação de Barassi para priorizar e quase exaltar esses elementos como aspectos fundamentais de sua expressão pictórica.
Pedro Liñares explora através de diferentes estilos e técnicas o potencial expressivo da pintura para apropriar, reinterpretar ou des-significar a realidade. Sua abordagem artística é profundamente enraizada no desenho, o qual ele utiliza tanto numa fase preparatória – como para a obra Imagem do Vaso de Flores (2024), que surge de um estudo a óleo – quanto nas etapas finais da pintura – como na série de obras Imagens da Prosa do Observatório (2024). Esta coleção de nove peças é inspirada no livro Prosa do Observatório, do autor argentino Julio Cortázar; o artista olha em particular para o ensaio fotográfico que o autor fez em Jantar Mantar, um observatório na Índia conhecido por sua notável combinação de estruturas geométricas, num raro exemplo de um edifício técnico com uma atenção profunda às proporções e à beleza estética. Nestas obras, Liñares replica fielmente as proporções do livro – todas as telas têm o mesmo tamanho das páginas. Contudo, sua abordagem de reproduzir as imagens não é realista; ele utiliza várias técnicas que incorporam ou removem diferentes camadas de cores. Um dos seus métodos envolve a sobreposição de uma folha de papel na tinta molhada e a utilização de uma ferramenta pontiaguda de metal para delinear formas, efetivamente removendo a tinta e reintroduzindo uma ideia de desenho na tela através de um processo subtrativo.
Nas suas pinturas mais recentes, Mariana Malheiro deixa de retratar grandes grupos em ambientes mundanos e sociais para focar-se quase exclusivamente no retrato de figuras femininas capturadas em momentos de solidão e introspecção. A pintura intitulada Helena (2023) faz parte desta extensa série de obras onde ela captura mulheres em ambientes domésticos íntimos. Embora elementos narrativos sejam insinuados nessas obras, elas transmitem uma qualidade misteriosa que parece obscurecer uma compreensão completa dos mundos interiores que representam. As outras duas pinturas da artista que foram apresentadas na exposição, Bruxas e curandeiras (crescimento) (2024) e Bruxas e curandeiras (colheita) (2024), também exploram temas em torno do universo feminino, pois foram feitas para um projeto editorial centrado em curandeiras e bruxas. Essas obras capturam mulheres que parecem incorporar uma profunda sensibilidade e compreensão do conhecimento herbal, quase como se fossem envolvidas ativamente em práticas de cura e crenças místicas. No geral, estas, como a maioria de suas obras, costumam ter origem em fotografias obtidas de várias fontes, frequentemente em preto e branco e com resolução reduzida, para permitir que sua imaginação e seu uso da cor fluam mais livremente. Seu processo pictórico envolve abordar a tela aplicando uma camada densa de tinta que ela manipula enquanto está parcialmente seca, traçando linhas e criando áreas de cor que dão às suas obras seu estilo gráfico distintivo.
Pedro Zhang iniciou sua carreira artística interessando-se por performances focadas na interação entre criação e destruição. Nos últimos anos, o artista tem se dedicado exclusivamente à pintura a óleo, mas resquícios da dinâmica anterior parecem persistir e influenciar seu atual corpo de trabalho. A prática de Zhang é fortemente impulsionada pela crença de que “Uma imagem nunca é estática”, e suas pinturas e seus sujeitos passam por inúmeras transformações que refletem os ciclos do mundo natural – árvores crescem, plantas secam e montanhas erosionam- se ao longo do tempo. Suas obras parecem apresentar uma representação idealizada da natureza, geralmente retratada durante a noite – um período de repouso e renovação para a flora. O foco de Zhang não está em pintar réplicas exatas, nem do ambiente natural, nem da imagem original, mas sim em capturar a essência entre suas contínuas transformações. Utilizando uma paleta distinta de tons terrosos e escuros que ele aplica habilmente através de camadas delicadas ou explosões audaciosas de cor densa, ele tem como objetivo criar paisagens oníricas, quase de conto de fadas, que irradiam harmonia e serenidade. Essa estética é exemplificada em obras como O fim de uma Aurora (2024) ou em A Alegoria da criação (2024), um autorretrato onde sua figura parece removida da paisagem, como se não pertencesse completamente a esse mundo mágico que ele próprio criou.
Pequenas Notas Sobre Figuração II
Opening July 17th, from 6.30 to 9 pm
Until September 21th
with works by
Pedro Barassi, Pedro Liñares, Mariana Malheiro, Pedro Zhang
Monitor is pleased to present Pequenas Notas Sobre Figuração II, a group exhibition featuring works by Pedro Barassi, Pedro Liñares, Mariana Malheiro, and Pedro Zhang. Following the opening of Pequenas Notas Sobre Figuração in 2020, which showcased a diverse selection of Portuguese and Italian artists exploring a wide range of techniques, approaches, and themes in contemporary figurative painting, we have chosen to replicate the same format for this occasion to provide a comprehensive insight into the practices of four young painters residing in Portugal.
Pedro Barassi’s artworks seem to evolve from a rich and diverse array of impressions that resonate with his sensibility. Whether coming from his immediate surroundings, or from distant sources accessed through the internet, the artist skillfully samples different subjective and poetic elements that he weaves together in his paintings. His creative process draws inspiration from the literary method known as the cut-up, a technique which involves slicing a text into sections and reassembling them to form a new composition that may convey either nonsensical or intriguing new meanings. The artist appropriates this practice only conceptually, as the fragmentation is not an element which is visible in his canvases; it serves more as a technique to generate suggestions, and new images he wouldn’t have accessed otherwise. This approach is more evident in the selection of subjects he chooses for his paintings, showing his fearlessness to engage with different images, while also revealing his aversion for repetition, a trait apparent in the broad spectrum of moments he depicts. Yet, despite this, upon examining his paintings, one cannot help but notice their technical and formal similarities, demonstrating the artist’s preference for a unified approach, both in the final composition and the execution process. The emphasis on spontaneity, unpredictability or perhaps even noise on the canvas is clearly visible in the artworks exhibited, underscoring the artist’s inclination to prioritize and almost exalt these elements as fundamental aspects of his expression.
Pedro Liñares explores through various styles and techniques the expressive potential of painting for appropriating, reinterpreting or de-signifying reality. His artistic approach is deeply anchored in drawing, which he employs either during the preparatory phase, as in the artwork Imagem do Vaso de Flores (2024), which stems from an oil study, or in the final stages of the painting, as in the series of works Imagens da Prosa do Observatório (2024). This collection of nine pieces, are inspired by Argentinian author Julio Cortázar’s book Prosa do Observatório, in particular from the photographic essay that the author shot at Jantar Mantar—a unique observatory in India renowned for its remarkable combination of geometric structures, an rare example of a technical building with a profound attention towards proportions and aesthetic beauty. In his artworks, Liñares accurately replicates the proportions of the book by ensuring his canvases match the size of the pages. However, his approach to depicting the images diverges from realism, as he employs a variety of techniques involving continuous layering and removal of colors. One method he uses involves overlaying a sheet of paper on the wet paint and using a metal-tipped tool to delineate shapes, effectively etching away the color and reintroducing a form of drawing onto the canvas through a subtractive process.
Mariana Malheiro has recently transitioned from depicting large groups in mundane and social settings, to focus almost exclusively on portraying female figures caught in moments of solitude and introspection. The artwork titled Helena (2023) is part of an extensive series where she captures women within intimate domestic environments. While elements of narrative are hinted at in these works, they convey a mysterious quality that seems to obscure a complete understanding of the inner worlds they represent. The other two paintings by the artist which featured in the exhibition, Bruxas e curandeiras (crescimento) (2024) and Bruxas e curandeiras (colheita) (2024),” also delve into themes surrounding the female universe, as they were made for an editorial project centered on healers and witches. These artworks capture individuals who appear to embody a deep sensibility and understanding of herbal knowledge, almost as if they were women actively engaged in healing practices and embracing mystical beliefs. In general, most of her works usually originate from photographs sourced from various origins, often in black and white and with reduced resolution, to enable her imagination and her use of color to flow more freely. Her process usually involves approaching the canvas by applying a dense layer of paint that she manipulates while it is partly dry, drawing lines and creating areas of color that give her works its distinctly graphic style.
Pedro Zhang began his artistic journey with performances focused on the interplay between creation and destruction. In the past years, he has dedicated himself solely to oil painting, but remnants of this dynamic seem to persist and influence his current body of work. Zhang’s practice is in fact firmly driven by the belief that “An image is never static”, as his paintings and his subjects go through countless transformations that reflect the cycles of the natural world – where trees grow, plants dry and mountains erode over time. His artworks in fact seem to present an idealized depiction of nature, consistently portrayed during the nighttime—a period of repose and renewal for the flora. Zhang’s focus is not on replicating exact replicas, neither of the natural environment, nor of the original image, but in capturing the essence between their continuous transformations. Utilizing a distinct palette of earthy, dark tones that he skillfully applies either through delicate layers or bold bursts of dense color, he aims at creating dreamlike, almost fairy-tale landscapes radiating harmony and serenity. This aesthetic is exemplified in works such as O fim de uma Aurora (2024) or in A Alegoria da criação (2024), a self-portrait where his figure appears removed from the landscape, as if it does not fully belong to that magical world he himself has created.