Thomas Braida | Matematiche Notturne

Opening on December 6th

Until February 3rd

 

End of Broadcasts

 

“You have no more content to see.”

 

Once upon a time, in a burst of honesty, Facebook used to inform us when we had concluded our scroll through the news shared by our, then limited, group of friends. A parallel scenario happened at the beginning of Italian television when the message “End of broadcasts” simultaneously graced the screens of viewers. This signal marked the absence of further programs to air or the conditions necessary for broadcasting. Composer and conductor Roberto Lupi, creator of “Armonie del Pianeta Saturno,” the closing theme for RAI’s “End of broadcasts” from 1954 to 1985, described the composition as follows: “It is a short piece of serene and, I would say, naive character. The oboe playfully repeats a fragment in the form of a call, while the strings calmly expose a lulling theme, preparing listeners for a peaceful sleep. My intention was to bring closure, yes, but also to prepare the listener’s soul for a calm and dreamy night.”

 

In today’s landscape, swiping through the endless stories on our Instagram and Tik Tok pages or navigating through the multitude of options on TV and streaming platforms, one may ponder the disappearance of that kindness and consideration toward the spectators and the sacred repose they once deserved. The repercussions of this lack of sensitivity may take years, perhaps centuries, to fully unveil. However, one noticeable consequence is the confusion arising from the inundation of images and information. Occasionally, we encounter something that doesn’t quite add up—an image whose authenticity is uncertain or news too absurd to believe. Doubts and perplexities arise, prompting questions: Is this event truly incredible, or am I undergoing a gradual erosion of my ability to discern truth from falsehood?

 

This peculiar sentiment, challenging to define except through an extended, confusing, and nostalgic metaphor, is precisely what Thomas Braida’s work often evokes in me.

 

The sensation of being transported into an imaginary world is inherently pleasant, though trust is not the predominant element in the journeys the artist takes visitors through in his paintings. Observing his landscapes, often inhabited by eerie creatures like the ones who live in al mondo non occorre un altro superoe, (2023), one may feel they have encountered those presences before but lack any clues as to when or where. Consequently, thinking about his paintings leads me more naturally to the impression of confronting a manipulation of perception rather than a manipulation of the reality itself. Indeed, as Braida asserts: “Each of my works represents something that exists, can exist, or has existed in some universe or in anyone’s dream.”

 

However, the artist adds another important ingredient to his representations which seems to make them even more effective. This element is light. The light coming from Thomas Braida’s paintings has always worked like a siren’s song for my senses. Perhaps it’s because that light reminded me of an illustrated fairy tale book I brought home from school at the age of eight, treasuring it with such fascination that I would caress its pages every time I flipped through. Like those forest paths my eyes followed enraptured only by the edge of the page, the intrinsic light from his paintings captures my sense of space and time, seemingly diminishing my spatial awareness.

 

Said so, I must admit that when I first read the title of this show “Matematiche Notturne” (Night Mathematics) I panicked a bit. I am, without pride, part of that group of people who have never liked mathematics, probably because I never made any effort to understand it. So, instinctively, when I read the title of this show, I was afraid of not comprehending it. After reflecting on the effect that his work has on me, I must admit that I now grasp, even if only slightly, what the artist means when he talks about “colored equations” and luckily, I feel more at ease getting lost inside Thomas Braida’s subconscious.

 

 

 

 

Alberta Romano

 

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(PT)

 

Fim das Transmissões

 

“Não há mais conteúdo a ver.”

 

Há muito tempo, num ataque de honestidade, o Facebook nos informava quando tínhamos concluído a nossa navegação, e o fazia por meio das notícias partilhadas pelo nosso, então limitado, grupo de amigos. Havia um cenário semelhante no início da televisão italiana, quando a mensagem “Fim das transmissões” aparecia simultaneamente nas telas dos telespectadores. Este sinal marcava a ausência de outros programas para ir ao ar ou das condições necessárias para a transmissão. O compositor e maestro Roberto Lupi, criador da obra “Armonie del Pianeta Saturno”, tema de encerramento do “Fim das transmissões” da RAI de 1954 a 1985, descreveu a composição da seguinte forma: “É uma pequena peça serena e, eu diria, de carácter ingênuo. O oboé repete alegremente um fragmento em forma de chamado, enquanto as cordas expõem calmamente um tema calmante, preparando os ouvintes para um sono tranquilo. Minha intenção era o de proporcionar um fechamento, sim, mas também preparar a alma do ouvinte para uma noite calma e sonhadora.”

 

No cenário atual, percorrendo as intermináveis histórias das nossas páginas do Instagram e do Tik Tok ou navegando pelas inúmeras opções na TV e nas plataformas de streaming, ponderamos o desaparecimento daquela gentileza e consideração para com os espectadores e o repouso sagrado que outrora mereciam. As repercussões desta falta de sensibilidade podem levar anos, talvez séculos, para serem totalmente descortinadas. Contudo, uma consequência notável é a confusão decorrente da inundação de imagens e informações. Ocasionalmente, encontramos algo que não faz sentido – uma imagem cuja autenticidade é incerta ou notícias absurdas demais para serem credíveis. Surgem dúvidas e perplexidades, suscitando perguntas: Será este acontecimento verdadeiramente incrível ou estou a sofrer uma erosão gradual da minha capacidade de discernir a verdade da falsidade?

 

Este sentimento peculiar, difícil de definir, exceto através de uma metáfora extensa, confusa e nostálgica, é precisamente o que o trabalho de Thomas Braida frequentemente evoca em mim.

 

A sensação de ser transportado para um mundo imaginário é inerentemente agradável, embora a confiança não seja o elemento predominante nas viagens nas quais o artista, por meio de sua pintura, conduz os espectadores. Observando suas paisagens, muitas vezes habitadas por criaturas misteriosas como as que vivem em al mondo non occorre un altro superoe (2023), podemos sentir que já encontramos essas figuras antes, mas não há pistas de quando ou onde isso ocorreu. Consequentemente, pensar nas suas pinturas leva-me mais naturalmente à impressão de estar perante uma manipulação da perceção do que uma manipulação da própria realidade. Na verdade, como afirma Braida: “Cada uma das minhas obras representa algo que existe, pode existir ou existiu em algum universo ou no sonho de alguém”.

 

Contudo, o artista acrescenta outro ingrediente importante às suas representações que parece torná-las ainda mais eficazes. Este elemento é a luz. A luz que vem das pinturas de Thomas Braida sempre funcionou como o canto de uma sereia para os meus sentidos. Talvez seja porque aquela luz me lembre de um livro ilustrado de contos de fadas que trouxe da escola para casa aos oito anos de idade, guardando-o com tanto fascínio que eu acariciava suas páginas toda vez que as folheava. Assim como aqueles caminhos na floresta que meus olhos seguiam extasiados apenas pela borda da página, a luz intrínseca de suas pinturas captura minha noção de espaço e tempo, aparentemente diminuindo minha consciência espacial.

 

Dito isto, devo admitir que quando li pela primeira vez o título desta exposição “Matematiche Notturne” (Matemática Noturna) entrei levemente em pânico. Faço, sem orgulho, parte daquele grupo de pessoas que nunca gostou de matemática, provavelmente porque nunca tenho feito qualquer esforço para compreendê-la. Então, instintivamente, quando li o título desta exposição, tive medo de não a entender. Depois de refletir sobre o efeito que seu trabalho tem sobre mim, devo admitir que agora entendo, mesmo que apenas superficilamente, o que o artista quer dizer quando fala sobre “equações coloridas” e, felizmente, sinto-me mais à vontade ao me perder dentro do subconsciente de Thomas Braida.

 

 

Alberta Romano